Projeto Sentido Gestacional

O que ocorreu no seio da família durante a nossa gestação?
Como estavam emocionalmente nossos pais, pouco antes e durante a nossa concepção?
O que aconteceu antes e durante a nossa gestação, pode determinar muito a nossa vida.
Para a Psicogenealogia, a concepção de um filho não se dá por acaso, mas está conectada às exigências da lealdade familiar invisível.
Um filho não é esperado, concebido e gerado por si mesmo, mas para obedecer a sonhos, desejos ou dividas de seus pais ou do seu clã familiar.
Sobre o filho, os pais projetam muitas expectativas, desejos inexpressivos, sonhos não realizados ou transferem de forma oculta missões reparadoras recebidas dos seus antepassados.
O filho já na sua concepção, recebe muitos encargos de compensação do destino familiar.
A programação inconsciente recebida do clã, junto às influências externas (estímulos emotivos positivos e negativos) do período de gestação e das condições do nascimento, constituem o condicionamento mais potente recebido da família e é chamado de PROJETO SENTIDO GESTACIONAL – projet-sens em francês e progetto senso em italiano.
Quem primeiro falou a respeito deste conceito foi um psicólogo francês chamado Marc Frechét.
Ele narrou que foi concebido porque seus pais precisavam de uma gravidez. Sua mãe corria o risco de ir para a prisão e se estivesse grávida a polícia poderia ter mais clemência e livrá-la da cadeia.
Porém, mesmo grávida, ela foi condenada e presa.
Então ele começou sua vida na prisão.
Quando finalmente sua mãe foi liberada, ele tinha apenas alguns meses de vida.
A questão é que sua mãe não queria ter filhos.
Teve somente para livrar-se da prisão.
E ela era uma mãe muito hostil, e não se ocupou dele.
Ele se sentiu muito só.
Todo o projeto para o qual foi concebido, que era libertar sua mãe da prisão fracassou.
Assim, ele sentia que, por ter falhado, não pertencia ou não lhe era merecido pertencer ao seu sistema famliar…
Mais tarde, quando se formou em Psicologia, ele trabalhou muito com mulheres e com a libertação de suas “prisões”, já que tinha sido programado para isso…
Programa significa escrito antecipadamente e
indica as intenções pelas quais têm a finalidade de serem atuadas.
Às vezes, como no caso do projeto sentido gestacional, os nossos ascendentes atuam dentro de um programa genealógico através, por exemplo, de um nome ou de crenças familiares. Tal programa se cria de maneira espontânea, depois de um ou mais traumas e são escolhidos certos descendentes para curar essas feridas. Na maior parte dos casos, porém, as tentativas de reparação permanecem inconscientes, fracassam e se consolidam mediante uma repetição do problema.
Outro projeto sentido gestacional que podemos observar frequentemente é o seguinte:
Quando morre um ascendente, verifica-se a concepção de um futuro bebê na família. Esse caso aponta simplesmente a tentativa de levar avante o processo de vida e a compensar o desequilíbrio das forças vitais. A identidade do bebê poderá agora apresentar uma ligação com aquela do ascendente falecido. O bebê poderá, por exemplo, ter o dever de substituí-lo, essa possibilidade aumenta mais ainda se o bebê for do mesmo sexo e tiver o mesmo nome do ascendente.
O efeito do projeto sentido gestacional sobre o percurso de vida
Trazemos dentro de nós, de forma inconsciente, os projetos e programações das funções da nossa história familiar. Esses programas interiores aparecem numa idade precisa ou também em situações que ativam a imposição originária. Ainda uma vez, tudo acontece de maneira completamente inconsciente. Conhecer esses projetos e programas permite antecipá-los e desativá-los se forem nefastos ou danosos para o desenvolvimento de quem os possui.
É raro que um bebê nasça somente pela alegria de nascer. Na maior parte das ocasiões os adultos o concebem, de acordo com suas próprias necessidades.
O desejo de um adulto, isto é, de um individuo que vive e que está saboreando a sua própria vida, portanto pronto para deixar nascer, crescer e partir o filho concebido, é um caso raro.
Devemos também precisar isto: por trás da concepção há sempre um desejo. Ou seja, um bebê concebido por acaso simplesmente não existe. O desejo pode não ser consciente, mas existe um programa familiar inconsciente.
A consciência do projeto sentido gestacional e a decodificação das missões recebidas do clã, traz uma mudança na vida pessoal. O sujeito descobre modos novos de exprimir o potencial energético recebido de herança familiar e aprende a compensar as escolhas infelizes e o destino não mais com sacrifício, mas com a realização pessoal e a construção do próprio bem estar.
Por: Jaqueline Cássia de Oliveira
Fonte: Material didático - Psicogenealogia Sistêmica
O romance familiar contado pelo genograma
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