Pais presentes e pais ausentes
Em família de pais temerosos, eles se sentem incapacitados de agir e de serem eles próprios no lar.
Um ou os dois pais se tornam afetivamente ausentes (ausência parental), ineficientes e incapazes de agirem na função parental que além da manutenção, têm também a função de educação, direção, limites e fronteiras para os filhos.
Os pais, muitas vezes, sentem esta incapacidade de agirem como indivíduos (seus gostos paladares, sonhos, etc), quando os filhos começam a crescer.
Isto só pode complicar ainda mais o desenvolvimento da criança, pois, ela sente que eliminou a função dos pais e fica mais desorientado.
É como se os pais , na dificuldade de preservar sua individualidade, deixassem os filhos no comando desta família.
O trabalho do Psicoterapeuta Sistêmico é de tentar encontrar uma maneira de ajudar esses pais a funcionarem como Pais, quando tem filhos que reinam em casa, correndo até risco de vida ou não deixando seus Pais viverem.
O primeiro cliente então são os Pais, porque os filhos não estão interessados na mudança.
Quem está disposto a “suar” são os Pais, porque são eles que sofrem mais.
E como ajudar a restituir a autoridade dos Pais, de maneira que não haja mais dúvidas a este respeito ?
A tarefa do Psicoterapeuta Sistêmico será legitimar a autoridade dos pais, criando um método de pensamento que os ajudem a tomar decisões mais rápidas e precisas. Ou seja, como Terapeutas, não podemos complicar. Temos que dar conceitos simples, com regra fácil de ser aplicada, de acordo com as necessidades.
PRESENÇA PARENTAL
A função parental é: manutenção, cuidados, afetos, educação, direção, limites, fronteiras para o filho.
AUSÊNCIA PARENTAL
Quando os pais se sentem incapazes de se colocarem, de agirem como indivíduos (seus gostos, paladares, sonhos , etc). Isto só vem complicar o desenvolvimento da criança, quando ela sente que eliminou a função e papel dos pais.
SOBRE A MÃE
Ela fica numa situação onde a margem de oxigenação é pequena, porque está constantemente sendo exigida e atacada.
Depois do 1º filho e após mais ou menos 10 anos de casada, a sua energia caiu muito.
Por isso são elas que primeiro buscam ajuda psicoterapêutica, porque estão mais dispostas a pagar pela melhora.
Exemplo:
A mãe pede para o filho fazer a lição de casa, aí ele faz muito barulho, chora, briga, etc.
Ela pode continuar a lutar e consegue com muita dor de cabeça que o filho faça a lição de casa.
Mas ela vai se cansando e deixa para lá ! Assim, o filho está educando a mãe para ceder e a mãe se condiciona a deixar prá lá para ter paz.
Em muitos anos de trabalho educando a mãe, ele não volta mais a traz.
Ele aumenta o barulho e a bagunça fica mais forte. O filho pára de perceber o grau da sua bagunça.
Nesta história se desenrolou uma cegueira seletiva = param de ver para se adaptarem ao processo (virou hábito, ou vício).
As mães precisam voltar a enxergar e acreditarem que são capazes.
Elas dizem: _ “qualquer coisa que eu fizer não vai dar resultado”. Como os pais, elas também se paralisam em termos de ação.
SOBRE O PAI
Ele tem papel importante, porque em famílias que não têm pais a situação é ainda pior.
E quanto mais distante o pai, maior a possibilidade de problemas com os filhos.
Só que raramente ele busca ajuda, porque dentro da família ele tem mais folga para ter interações prazerosas com seus filhos.
No caso dos pais, eles têm mais preguiça ainda de brigar com o filho e deixam nas mãos das mães para fazerem esta parte chata de suas funções paternas.
Aqui acontece uma quebra hierárquica, onde o pai funciona mais como amigão, tio legal, ou apenas o marido da mãe!
SOBRE O FILHO
Depois de séculos onde a função do pai era de autoritarismo e da mãe de seguir como os filhos este comando, as coisas mudaram de lugar.
Mas não mudaram para melhor, porque se antes os filhos tinham muito medo dos pais, hoje os pais têm muito medo dos filhos.
Talvez isto tenha acontecido junto com o movimento feminista e hippie, quando tabus foram derrubados e padrões modificados.
Mas depois de séculos oprimidos, tanto filhos quanto mulheres saíram de um polo e foram para o polo extremo, o que tornou-se disfuncional da mesma forma.
A questão não é a mulher trocar de lugar com o homem e filhos darem comando nos pais.
Tudo para ser funcional e saudável deve seguir uma hierarquia.
O trabalho do Psicoterapeuta entra aí, redistribuindo papéis e funções de acordo com a competência de cada um nesta família.
O TRABALHO DO PSICOTERAPEUTA FAMILIAR
Os pais quando entram em contato com o Terapeuta, já sentem que serão de alguma forma criticados.
Precisamos aceitá-los e verdadeiramente nos interessar pelo sofrimento deles, porque assim o diálogo muda e se tornam motivados.
ALIANÇA TERAPÊUTICA
O Psicoterapeuta também precisa se interessar pelo medo paralisante dos pais (medo de ver o filho drogado, suicida, assassino, etc).
O Psicoterapeuta precisa ajudar aos pais expressarem esses medos.
Como profissionais, não podemos minimizar ou desqualificar seus medos e angústias.
Os medos sendo declarados, aí então podemos começar a enfrentá-los (em equipe).
Fala do Psicoterapeuta com os pais:
_”Preciso de vocês e isto é prioridade nos primeiros 3 meses.
No início do tratamento vai ser necessário disponibilidade, tempo e vontade, senão não vale a pena começar.
Preciso do compromisso de vocês, com propostas aceitas ou não por vocês .
Isto agora na vida de vocês é prioritário!
E se o filho de vocês tivesse um câncer ? Vocês não largariam tudo e dariam prioridade a isso? ”
Com a confirmação dos pais de que estão dispostos a se comprometerem, começa-se o plano de ação.
Sem isso, nada na Psicoterapia vai dar certo.
APONTAR PARA OS PAIS ONDE ESTÃO AS DISFUNÇÕES
1) Filhos que percebem que nesta família não existe PRESENÇA PARENTAL.
Eles experimentam as fronteiras e limites e percebem que “não há ninguém em casa!”.
Onde não existe mais presença parental é lá que vamos criar.
2) Filhos adotivos
Em geral apresentam, com a entrada na adolescência, um conflito inconsciente entre as duas possibilidades de destinos que a vida lhe ofereceu: o destino não vivido com sua família biológica e o destino que está vivendo com a família adotiva.
Portanto, o filho adotivo pode apresentar uma angústia e também um sentimento de deslealdade com sua família biológica, ao mesmo tempo culpado e com sentimento de traição à sua família adotiva.
A fase da idade adolescente, que é um período em que o jovem se torna naturalmente contrário à família, pode acontecer do filho querer buscar a família biológica carregando todo um imaginário criado a respeito dela..
A questão pode se agravar quando os pais adotivos, inseguros de suas funções parentais ou pelo medo da perda deste filho para o seu “outro destino” interrompem o diálogo criando amargura, cobrança ou violência.
3) Filhos suicidas
Se sentem sozinhos, sem apoio, sem ninguém, porque os pais não estão lá com eles (emocionalmente e até fisicamente).
Se sentem desqualificados e abandonados.
Com jeito o Psicoterapeuta vai estar lá e “convida” aos pais a participarem mais.
O cliente (filho) vai se irritar no início, mas estamos lá. Isto auxilia a diminuir o desespero e a solidão.
* O Psicoterapeuta deve mostrar aos pais a importância da presença parental - estarem com seus filhos. Os pais devem estar lá: onde o filho vai, onde ele está (nas drogas, na marginalidade, sozinhos, etc).
SIGNIFICADO DA PRESENÇA PARENTAL NO CAMPO DA AÇÃO
Os pais estão fisicamente presentes.
1. COM FILHOS CRIANÇAS
É o ato de pegar uma criança e segurá-la quando ela está tendo uma “birra” por exemplo.
Um “abraço de urso” pode representar muito para a criança.
É uma manifestação de presença física : – estou aqui, te seguro, te protejo de você mesma!
2. COM FILHOS ADOLESCENTES
No caso de filhos adolescentes já tem mais ligação com território.
São eles quem mandam e governam o quarto e outros lugares que frequentam.
Eles têm controle absoluto do seu quarto (ninguém pode mexer lá), mas têm direito de mexer em outros “territórios”.
Isso acontece com todos os adolescentes e são os primórdios para ele se tornar também um ser humano territorial (ter território garantido).
A presença física dos Pais com os adolescentes pode ser assim: quando o adolescente toma conta de todos os territórios (guarda-roupa da mãe, carro do pai, bagunça todos os lugares da casa, etc.), os pais entram com a Presença física contestando o território, pode ser falando, segurando o adolescente (com abraço forte). Os Pais têm que estar lá, questionando os lugares, marcando a presença e o domínio, conhecendo os lugares que os filhos frequentam (em alguns casos como bons detetives, indo atrás, pegando uma rede de auxílio, etc).
Têm intervenções que só funcionam por causa do tempo que os Pais estão lá. Exemplo: Os Pais tiram 2 horas para reunir com os filhos. Enquanto não se posicionarem e colocarem o que fizeram de certo e errado, sucessos e fracassos não vão dormir (Pais e Filhos).
O tempo então é um fator de presença parental.
Exemplo : O Pai está trabalhando e se lembra do Filho e liga para saber se ele fez tal e tal coisa. Ele marca presença na vida do Filho. É como se os Pais dissessem : _ Somos seus Pais 100 % . Estamos com vocês !
O Psicoterapeuta precisar mostrar aos Pais que o objetivo nunca é uma luta contra os filhos e que o objetivo seria sua rendição.
Na verdade, a intenção é fazer uma abertura para negociação (diálogo, acordos).
3. COM FILHOS ADULTOS
Quando as questões lá para trás já se estabeleceram de forma confusa, quando os filhos se tornam adultos, tendem a continuar tratando os Pais como “trouxas” e “frouxos”.
Os filhos dão o comando de tudo e desqualificam emocionalmente os pais, além de tomarem conta de todo o território físico deles.
O psicoterapeuta vai auxiliar estes pais que estabeleceram relações com quebra hierárquica ou até mesmo, fazendo uma manutenção de psicoterapias anteriores, não deixando que os pais voltem a serem “trouxas” e nem que fiquem desejosos de influenciar a vida do filho adulto.
A fala dos pais deve ser mais ou menos a seguinte : _ “Eu não posso te influenciar mais, gostaria, mas renuncio a isto. Porém, também não vou deixa você me explorar, magoar, invadir, etc.”
4. FAMILIA UNIPARENTAL
No caso de uma família em que um dos pais cria sozinho os filhos. Exemplo: uma mãe sozinha com um filho adolescente.
Ela sozinha não vai ter condições de estabelecer as duas funções (maternas e paternas). A questão imediata é : Quem é que vai apoiá-la ? Se não tiver ninguém mais, será o Psicoterapeuta. Ele será a fonte de apoio para a Mãe.
Se estiver acontecendo um caso mais greve, como por exemplo o envolvimento deste adolescente com drogas, o psicoterapeuta não deixa a mãe enfrentar o filho sozinha.
É chamado para ajudar tios, irmãos, amigos, fazendo uma rede de ajuda mútua. Pessoas vão passar tempo com este adolescente, sabendo onde ele está, com quem, etc.
As sessões podem ser feitas com todos os membros desta “família artificial”, que na verdade é uma rede de proteção para o adolescente, que o ajuda perder esta sensação de solidão, isolamento, abandono.
5. DESACORDO ENTRE O CASAL DE PAIS
O casal pode estar tanto em desacordo afetivo, quanto em desacordo na criação dos filhos, que chegam a um ponto que não se falam.
O trabalho do Psicoterapeuta é focado na comunicação. Exemplo: O Psicoterapeuta fala para o casal de Pais: “Vocês têm um problema simétrico. Ambos nutrem desejos totalmente aceitáveis, humanos e positivos em relação a seus filhos. Você Mãe tem tal e tal desejo e você Pai, tem tal e tal desejo. Ou seja, têm desejos completamente opostos!
A ideia aqui é ajudar a vocês serem Pais diferentes, mas não mutuamente canceláveis, sem se anularem.
Texto organizado por:
Jaqueline Cássia de Oliveira
Psicoterapeuta Familiar Sistêmica
Fontes:
Seminário e livros de Dr. Haim Omer
Material didático Casais & Famílias - Interação Sistêmica Edições
Material didático Atuação do Terapeuta - Interação Sistêmica Edições