Desenvolvimento psicossexual

Na Psicoterapia Sistêmica as fases do desenvolvimento Psicossexual
são distribuídas de forma diferente da Psicanálise.

Na escola de Freud é da seguinte forma: Fase oral/ fase anal/ fase fálica/ período de latência e fase genital.

Já a Psicoterapia Sistêmica se apoia na teoria de Freud fazendo algumas alterações: fase oral/ fase anal/ fase fálica e recomeço na pré-adolescência da fase oral/ fase anal/ fase fálica e fase genital.

Outra diferença é que a Psicoterapia Sistêmica considera que o desenvolvimento psicossexual, assim como os demais, sofrem influência da interação do casal de pais e estes por sua vez, sofrem influências das interações familiares e transgeracionais.

Vejamos um pouco sobre a visão dessas escolas.

VISÃO PSICANALISTA

FASE ORAL de 0 a 18 meses

O bebê é egocêntrico, narcisista e enxerga a mãe como extensão dele (como se fosse um adendo). Como se o mundo fosse ele ou que gira ao redor dele.

Temos aqui a dependência primária: precisamos literalmente da mãe para sobreviver física e emocionalmente.

E quem vai promover ou ajudar a romper com esse egocentrismo é a mãe.

A primeira separação que sofremos é com o nascimento. Saímos do nutrido, do calor e somos “expulsos”.

Nascemos sofrendo o processo de separação.

Existem alguns bebês que resistem a esse processo de separação, porque eles percebem que não são desejados (o não desejo de sua existência). Assim, esses bebês possuem menor resistência física e/ou emocional. Já nascem deprimidos ou com pouca pulsão de vida.

A segunda separação é quando o bebê começa a enxergar a mãe como “outra” pessoa.

Ela é efetivada quando a mãe tem motivos para voltar aos outros papéis em sua vida: mulher, esposa, profissional, social.

Muitas mulheres “agarram” no papel de mãe talvez porque se sentem poderosas, reconhecidas e amadas. O filho traz a vida que ela não tem. Ela vai ter um “único” filho neste momento e depois ela pode ir “segurando” os seus outros filhos sucessivamente.

O processo de separação dá-se junto com o final da amamentação. Quando a mãe começa a substituir o peito, criança e mãe sentem muito. Nesse momento o bebê vivencia muito ódio, frustração, raiva, angústia, dor, ansiedade, impotência (Fase depressiva, descrita por Melaine Klein). E a mãe sente ansiedade, angústia, com a possibilidade do bebê não precisar mais dela.

Melaine Klein: nessa separação, a criança vive a cisão do seio em seio bom e seio mau. Exemplo: Quando a mãe sai (seio mau), a ansiedade é muito grande. Se o bebê sabe que ela vai voltar, ele aprende a esperar. Se ela demora demais ou mesmo que ela volte, mas não está disponível, ele vive o sentimento de abandono e rejeição e se torna muito ansiogênico – posição esquizo-paranóide. Mas, se também só o seio bom é ativado traz a dependência pura ou simbiose.

*** Todo esse processo é inconsciente e o ego começa a estruturar quando ocorre a separação mãe-filho.

FASE ANAL – de 18 meses a 3 anos e meio aproximadamente

Controle dos esfíncteres. Aqui o bebê vai aprender sobre limites.

São dois movimentos : expulsão e retenção.

Retenção : ter/ segurar/ reter/ controlar/ guardar

Expulsão : doar/ eliminar/ excluir/ separar

Tem bebê que demora a reter ( faz xixi e cocô na calça) e tem bebê que fica segurando (fica dias sem fazer cocô).

Aqui estamos aprendendo o equilíbrio em dar e receber, internalizando o NÃO.

Começou a ser introduzido na 1ª fase e aqui é introjetado de vez = formação do SUPEREGO.

O não é acompanhado de testes. Exemplo: “menino não ponha o dedo aí!” Ele vai e testa. E quanto mais ele desconfia do amor do pai e da mãe, mais ele testa esta autoridade. Na verdade, a criança quer ver se pode “confiar” nestas pessoas. Ele está testando a coerência.

Aqui dá-se os primórdios do Complexo de Édipo: a criança testa a coerência e a autoridade dos pais e na verdade ele testa o AMOR.Testa também a relação do casal, se tem coerência, se o casal tem afinidades, se estão verdadeiramente juntos ou não. Assim, a criança vai aprender o que é autoridade. O desequilíbrio é a resistência de sair do narcisismo, do egoico, da dependência.

FASE FÁLICA aproximadamente de 3 a 6 anos.

Se tudo estiver acontecendo de forma funcional, a criança “entende” que a mãe tem um outro “objeto de desejo” que é o seu pai.

Neste momento que vai acontecer a “triangulação” ou a questão “edipiana”.

VISÃO SISTÊMICA

COMPLEXO DE ÉDIPO FUNCIONAL

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O menino “seduz” a mãe .

Aqui acontece a primeiro choque entre pai e filho.

O pai é que faz o corte e para isto acontecer, depende da relação estabelecida entre o casal.

Essa é a oficialização do PAI INTERNALIZADO.

Aqui acontece a identificação masculina: o menino quer ficar poderoso como o pai para ter uma mulher como a que o seu pai tem.

Aqui precisa de um pai tranqüilo do seu papel masculino e de um casal saudável.

** Se essa mãe ficar viúva por exemplo, um outro homem (tio, padrinho, avô, namorado da mãe) é que pode facilitar este corte. Esse corte deve ser feito por um homem.

COMPLEXO DE ÉDIPO DISFUNCIONAL

1º caso
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É um casal disfuncional: esse homem não tem desejo e satisfação com essa mulher.

Ele pode funcionar como seu pai, filho , inimigo, sócio dela, etc,

Quando esse filho vai seduzir a mãe, ela gosta porque esse marido não corresponde a seus desejos.

Então, ela elege o filho como “parceiro” e o marido não faz o corte entre essa mãe e o filho.

A mulher “sobe” esse filho para o lugar de “marido” (substituindo a carência marital ).

Aqui o filho fica órfão de pai.

Hipóteses

Esse filho pode ter muita dificuldade de relacionamento e de se entregar a outra mulher, ficando solteirão para cuidar da mãe.

Pode acontecer também da mãe não desqualificar o pai, embora esse homem não preencha sua carência afetiva e aí ela fica com 2 homens (pai e filho).

Esse filho pode casar, mas somente com uma mulher escolhida pela mãe, que não vai roubá-lo dela. Tem que ser uma mulher forte como a mãe, mas que, enquanto estiver viva não a ameace e que quando ela morrer, essa mulher cuide de seu filho como ela cuidava. Esse homem que ficar com uma mulher não escolhida pela mãe, “brocha” na cama ou tem pouco desejo por essa mulher porque sente que está traindo a mãe. Exemplo: Filme – Édipo arrasado

2º caso

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A primeira tendência é a mãe fazer do filho o seu “marido”.

Essa mãe faz dois papéis: de mulher do filho e de pai do filho, querendo o ensinar a ser homem.

Pode acontecer desse filho ficar com raiva de mulher (e não ser homossexual). Ele até transa com mulheres, mas não vincula, porque ele está casado com a mãe (fica solteirão).

HIPÓTESE DE HOMOSSEXUALIDADE: O filho vai seduzir a mãe, e não tem ninguém para fazer o corte (um homem), então, sobrou para ele se identificar com a mãe.

Ele cria uma resistência por mulher, porque foi uma própria mulher (sua mãe) que tentou ensiná-lo a ser homem.

Essa mãe, na verdade, acha muito bom que seu filho não tenha “outra” mulher. Ele pode até transar com quantos homens quiser, mas nunca com “outra” mulher

3º Caso

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Esse casal está feliz de ser assim: pai (gênero masculino, papel feminino) e a mãe (gênero feminino, papel masculino).

Aqui não existe angústia, dor. Eles estão satisfeitos com seus papéis.

Então, por instinto o filho seduz a mãe e o pai não faz o corte.

É a própria mãe que faz isso, porque ela tem a função masculina do casal e porque ela já tem o seu namorado (que é o marido) .

Assim, a mãe não impede que o filho faça a identificação com o pai, porque o casal tem uma boa relação afetiva. Esse filho se identifica com o pai e vai buscar uma mulher forte como a mãe.

O filho não será homossexual, mas será um homem mais sensível (como o pai) e vai viver como seus pais vivem felizes! Esta família não é considerada disfuncional.

4º Caso

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Esse casal vive essa troca de papéis, mas a mulher vive muito incomodada e diz : – “Seu pai é um banana !”

Então, a mãe não deixa o filho se identificar com o pai. Ela sutilmente diz: – “Não seja igual a seu pai que é um banana! – Seja igual a mim que sou forte!”

Aqui o homossexualismo também é uma grande possibilidade.

Assim, ele é homem (gênero masculino) , seu papel de identificação (que é a sua mãe) é masculino, ele vai buscar um homem, no papel feminino (como o pai). Ou seja, vai buscar uma figura feminina no gênero masculino, porque o feminino está no pai (no homem).

Sobre o homossexualismo masculino:

O homossexualismo (tanto o masculino quanto o feminino) é um assunto polêmico e não tem regras do tipo: quando acontece isso, então dá-se o homossexualismo. Cada caso é um caso.

96 % dos homossexuais são de gênero masculino, papel masculino e com desejos e práticas homossexuais.

Esses homossexuais não querem deixar de ser homens. Eles querem ser homens, só que desejam um outro homem.

Somente 4% dos homossexuais possui transtorno de gênero. Ou seja, são homens que têm desejo de serem mulher.

Eles se sentem como mulher , não se adaptam internamente e por causa disso são mais agressivos.

Aqui o componente suicida é muito forte, porque são muito depressivos ou com fortes traços depressivos.

Outros psicotizam, porque não dão conta de lidar com a realidade dura (corpo masculino, sentimento de ser mulher).

Os casos de transtornos de gênero (travestis, transexualismo, bissexualismo, etc), são casos mais especiais ainda e que cada um deverá ser melhor entendido.

Como por exemplo: se um pessoa com transtorno de gênero fizer um cirurgia para trocar de sexo, não quer dizer que vai fazer uma escolha heterossexual. Poderá ser também uma opção homossexual.

A grande maioria dos homossexuais são casados e têm filhos.

Esses homens buscam travestis (que é o estereótipo de mulher), mas na hora da cama, eles podem fazer o papel passivo. Eles têm práticas heterossexuais , mas têm desejos homossexuais.

Muitos homossexuais são machões e odeiam gays. Eles jamais assumem a sua homossexualidade ou sequer tomam consciência dela.

Homofobia: medo do homossexualismo.

No homossexualismo latente também pode haver uma sublimação, revertendo o que considera destrutivo em algo de possibilidade construtiva, como por exemplo: massagista de time de futebol; general do exército; barbeiro; urologista, proctologista; etc. Isso não quer dizer que os homens que têm estas profissões são homossexuais latentes. Somente que estas profissões podem aproximar esses homens de outros.

COMPLEXO DE ELECTRA FUNCIONAL – dos 3 aos 6 anos aproximadamente

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A menina seduz o pai, e quem vai fazer o corte é a mãe (se o casal é funcional).

A mulher diz para a filha: – ele é seu pai e é meu marido!

Neste primeiro momento existe uma briga da filha com a mãe, mas no segundo momento essa filha faz uma aliança com a mãe (passa batom, põe sapato da mãe.

Aqui fechou o complexo de Electra.

No complexo de Édipo, o primeiro amor do filho é heterossexual ( a mãe) e ele disputa com o pai.

Já na questão feminina (Electra), o primeiro amor é a mãe, por volta dos 3 anos instintivamente ela se apaixona e seduz o pai, ou seja, trai seu primeiro amor que é a mãe.

Aqui aparece um sentimento de culpa que todas as mulheres carregam para o resto da vida.

A mulher sempre tem uma grande culpa em relação á suas mães, com muitas dificuldades de terem ou serem diferentes de suas mães.

Muita mulher não sai desse débito, dessa culpa e muitas vezes ela busca uma relação tão disfuncional ou difícil como foi a da sua mãe.

Como terapeutas, devemos ajudar às clientes a fazer duas “separações”: primeiro do pai e depois da mãe.

COMPLEXO DE ELECTRA DISFUNCIONAL

1º caso

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Esse casal já assumiu que sua relação não é satisfatória.

Aqui a filha vai seduzir o pai e essa mãe não faz o corte, porque ela não liga (acha até bom).

Ele também acha ótimo e essa filha vira a filha/esposa, a mulher que esse pai/homem desejava ter.

Aqui a filha fica órfã de pai e pode acontecer envolvimento sexual, chegando às vias de fato.

O que pode acontecer com essa filha no futuro:

Ela pode ficar solteirona a vida inteira porque já é casada com o pai.

Pode acontecer uma relação incestuosa afetiva ou efetiva com o pai.

Ela pode casar com um homem mais velho (representante do “pai”), fazendo uma transferência.

Ela pode casar com um homossexual, que não fará concorrência para o pai, que continuará a ser seu ”grande amor”.

Ela pode ficar solteira (casada com o pai) assumindo todas as responsabilidades com os outros irmãos e a própria mãe vira sua filha.

Também pode acontecer da mãe ficar com ódio desta filha, e se tornarem rivais de fato (disputa edipiana).

A mãe pune a filha pelo resto da vida, por ela ser a “queridinha do papai”. Ou seja, a filha que o pai ama mais do que a própria esposa, vai ser odiada pela própria mãe. E assim, essa filha fica órfã de pai e mãe.

Observação:

esse pai pode ter até um harém de filhas/namoradas e cada uma com função diferente no sistema.

2º caso

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Essa filha torna-se a mulher do pai e assim não aproxima nenhuma outra mulher dele.

Ela vai se identificar com o pai, porque não tem uma mulher para fazer o corte.

Ela pode ficar muito masculinizada e pode acontecer, se houver outra filha, dessa ficar muito feminina e até ter uma 3ª irmã que vai ser a filha das duas.

Aqui pode chegar a um homossexualismo latente ou até emergente ( busca na relação com outra mulher a mãe que não teve)

Observação: Tem a mulher homossexual que ama o pai e odeia a mãe, mas tem também aquela que odeia o pai e defende a mãe que é anulada e submissa a esse pai.

3º caso

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Aqui o casal é truncado, mas é feliz.

Acontece então a filha inicialmente seduzindo pai, vem o corte dessa mãe e ela vai se identificar com a mãe, que tem o papel masculino. Assim, ela poderá buscar um homem mais sensível como o pai.

Mas se o casal é truncado e não são felizes pode acontecer o seguinte :A filha seduz o pai, a mãe pode fazer o corte mas dizer sempre : _ Seu pai é um banana!

Isto porque esta mãe possivelmente é muito durona e tem inveja da afetividade do marido. Assim, essa filha fica com dificuldade de valorizar os homens.

A mãe não era homossexual, mas a filha pode tornar-se, buscando uma companheira mais passiva.

Ela poderá estar vivendo o homossexualismo para a mãe e para ela mesma.

Texto organizado para fins didáticos por: Jaqueline Cássia de Oliveira - 2001
Usado em cursos de formação em Terapia Familiar Sistêmica 
Psicóloga - PUCMG - 04/7521
Psicoterapeuta Familiar Sistêmica - Brasil

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