Vergonha: reservatório para os segredos na família – Marilyn J. Mason

Vivemos com uma imagem percebida de algum Self (eu) social perfeito, que deve ser admirado por manter critérios sociais externos. Freqüentemente, somos admirados não pelo somos, mas pelo status, títulos e “imagem” de sucesso. Nossa cultura capitalista garante que o consumo transmita uma imagem externa de sucesso. Portanto, se temos títulos e dinheiro, o domicílio correto e um automóvel, temos valor. Ainda assim, paradoxalmente, sabemos, em algum nível profundo, que isto não consegue erradicar nossa vergonha. Apenas compensar sem recompensar.

  • O processo de socialização nos leva à idealização. Ficamos deslumbrados com uma imagem externa, supervalorizada e desqualificamos a Pessoa Íntima – a nossa Autoridade Interior.

A vergonha tem sido citada como motivador mais poderoso para o progresso humano. A vergonha torna-se o “motor” que impulsiona a muitos à busca de perfeição, status e prosperidade. Provavelmente, não nos surpreende que 38% dos executivos norte-americanos cresçam em famílias alcoólicas (EAP Digest, 1987). (Vícios → Vergonhas).

Gatilho para vícios e fofocas / O que: Atrai – Distrai – Contrai

A Vergonha frequentemente está no eixo de controle.

Em uma tentativa para afastarmo-nos da dor da vergonha, a “emoção mestra” (Goleman, 1987), amiúde somos levados a comportamentos adictivos que nos oferecem momentos de liberação, fazendo com que nos sintamos melhor ou insensíveis.

Por exemplo: uma mulher que realizava pequenos furtos de uma  forma compulsiva não desejava que o marido descobrisse este seu doloroso segredo. Uma vez descoberto, o casal aguardou até estar em terapia por quase um ano para contar o segredo ao terapeuta. Após algum tempo, a esposa conseguiu perceber que estava fugindo da dor e vergonha de seu relacionamento incestuoso com o pai. (Homeostase – Vergonhas encaixadas para anular a fonte de referência).

Nem sempre o próprio segredo – suicídio na família, gravidez antes do casamento, adicções, ou abuso sexual, – determina se o segredo inibirá o crescimento. Em vez disso, o processo familiar em torno do evento ou experiência é o responsável por isto.

Se uma família tem um sistema relativamente aberto – isto é, seus membros estão livres para comentar o que aconteceu e para passar isto adiante como uma história da família – ela está menos propensa a unir-se na vergonha. As famílias mais fechadas e leais às regras de “não falar, não confiar, não sentir” frequentemente criam mitos familiares ou histórias desonestas para esconder segredos. (Negar conflitos – Dilemas das Relações. “O que os outros vão pensar, falar…”).

Vivência de: Maldição – Interdição – Flagelo – Azarado.

Para aqueles que cresceram em famílias com segredos vergonhosos, tais vínculos interfamiliares invisíveis trazem consigo mensagens profundamente entranhadas que deixam marcas  indeléveis nos padrões de nossos relacionamentos adultos. Nem mesmo a morte de nossos pais e irmãos é capaz de cortar esses laços; ainda carregamos o relacionamento em nosso interior.

Isto significa que devemos explorar como levamos nossa lealdade a nossas famílias pela vida afora. (Pactos – cumplicidade: crenças rígidas arraigadas para manter encaixado e estruturado, o segredo das dores das vergonhas).

Parte do processo de amadurecimento é trair nossa lealdade infantil às nossas famílias, rompendo as regras e depois criando uma lealdade adulta.

(Regular distância: o que é meu ↔ o que é nosso).

As Regras familiares, isoladoras da dor e desconforto familiar, são ensinadas e aprendidas de modo não-declarado com injunções implícitas acerca do que podemos ver, ouvir, sentir e comentar.

“Não está acontecendo nada – e não conte a ninguém” é a injunção com quais muitos de nós vivemos em família. Esta regra preserva o reservatório carregado de vergonha de segredos familiares. (Quando perguntar – ofende…)

Quando contei a Joe sobre esta injunção, falei sobre meu “palpite” de que provavelmente havia muitos segredos em sua história familiar. Joe “normalizara” o fato de que nem a mãe nem o pai jamais haviam falado sobre a infância desta. Ninguém jamais trouxe o assunto à baila. Joe, então, disse: “Eu deveria ter perguntado”. Lembrei-lhe de que esta ausência de perguntas era vital para a preservação do segredo através de seu “não-falar” e que, inconscientemente, ele estava protegendo a mãe. (Cumplicidade com a idealização da mãe: imagem supervalorizada X pessoa desqualificada).

Enquanto reservava algum tempo para focalizar-se sobre a história de sua família, Joe começou a entrevistar parentes e começou a reconstruir sua história de vida. Ele soube que seu avô paterno era um homem deprimido (assim como seu próprio pai) e que seus avós sempre haviam dormido em quartos separados. Ao perguntar ao pai, às tias e tios sobre sua mãe, Joe ficou chocado ao conhecer vários segredos de família.

Em primeiro lugar, soube que seu avô materno era o bêbado da cidade e abusava fisicamente do filho (o tio de Joe). Soube também que a família de sua mãe fugia dos credores e precisava mudar-se a cada três meses. (Dívidas vergonhosas).

Quando Joe perguntou ao pai por que sua mãe jamais revelara seu passado a ele e aos irmãos, este disse que ambos haviam decidido que seria melhor proteger as crianças desta história dolorosa. (Proteção pela Tortura)

Ele jamais conhecera realmente a mãe como uma pessoa. Lembrei-lhe de que as regras familiares da vergonha formam vínculos de um modo poderoso e invisível. (Envolvimento superficial sem aprofundamento respeitoso)

As Regras da Vergonha:

Regras identificáveis específicas aplicam-se à família ligada pela vergonha. Tais regras encobertas governam as interações na família e perpetuam a vergonha. As oito regras seguintes ilustram o padrão que assegura o legado da vergonha:

①-Controle: Esteja no controle de todos os comportamentos e interações – (Rígido / Impulsivo)

②-Perfeição: Esteja sempre “com a razão”. Faça a coisa “certa” – (Manipulação das Aparências)

③-Culpa: Se algo não ocorrer como você planejou, culpe alguém, a si mesmo ou a outros – (Delírio de Grandeza)

  • Manter os encaixes estruturados: HomeostaseAcomodação e Estabilidade das Imagens IdealizadasTodo esforço para manter a Estrutura se repetindo: Padrão.

④-Negação: negue os sentimentos, especialmente os negativos ou vulneráveis como ansiedade, medo, solidão, tristeza, rejeição e carência.

⑤-Inconfiabilidade: não espere confiabilidade ou constância nos relacionamentos. Espere o imprevisível.

⑥-Inconclusão: não leve suas transações até a resolução ou término, porque você poderá enfrentar os sentimentos ou revelações honestas que está protegendo.

⑦-Não fale: não fale aberta e diretamente sobre o comportamento vergonhoso, abusivo ou compulsivo. (Fale do Delírio de Grandeza)

⑧-Desqualificação: quando ocorrer um comportamento desrespeitoso, vergonhoso, abusivo ou compulsivo, desqualifique-o, negue-o ou disfarce. (Fossum & Mason, 1986, PP.86-7).

  • Auto-Exigência / Auto-tortura e condescendência ao Padrão Familiar Rígido e Poder Social Autoridade Externa.

Essas regras determinam o que é e o que não é permitido. Mais importante, elas permitem que saibamos quem decide; quem é a autoridade. Os segredos inervam as regras da vergonha – regras que perpetuam a vergonha e unem os membros da família em confusão, caos e relacionamentos inibidores do crescimento (e da sensibilidade organizada).

Vemos essas regras encenadas quando notamos  quem se irrita com quem / quem consegue ser íntimo de quem / quem pode responder / quem pode sentar onde – e tudo isto é decidido em um nível não declaro. Encenamos automaticamente a programação profundamente embutida em nossos papéis, padrões de relacionamentos e decisões de vida.

  • Encenação Familiar: – O ator propõe: faz a cena do auto-engano e os – co-adjuvantes contracenam os encaixes complementares – rígidos.

Estas regras não apenas instilam a vergonha, mas a perpetuam. O processo familiar ligado à vergonha é severamente galvanizado contra revelações humanas honestas. Os membros da família obedecem a essas regras inconscientemente e aprendem a não perguntar, a não comentar. Assim as informações “devidas” à família tornam-se um segredo vergonhoso. Essas regras organizam (?) a dinâmica de uma família; esta se torna ligada à vergonha, enquanto crianças absorvem sentimentos e histórias não-expressados. (Mandatos Míticos Estruturantes da: Vergonha / Ridículo).

Ir ao âmago de qualquer determinado assunto é ir além e trair a lealdade às regras do sistema: “jamais verei ou saberei, jamais contarei ou comentarei, e prometo odiar (ou amar) para sempre.”

Nossa tarefa é realizar escolhas ativas acerca de como tentamos compreender a nós mesmos e aos nossos relacionamentos, de modo que possamos criar nossa própria ordem de eventos com base em nosso próprio sistema, não o de nossos pais.

Como um pai disse a um filho adulto em meu consultório, em um dia: “eu sei que minhas digitais estão gravadas em seus problemas, mas a solução cabe a você”. (Tabu – Segredo / Limitação auto-imposta).

Joe conseguiu reconhecer sua lealdade às regras da vergonha em sua família. Ele fora leal à regra de jamais perguntar sobre a dor de seus pais. Em uma de suas sessões familiares, ele voltou-se para o pai impassível e disse: “eu via seu lado externo, quando era um menino, e eu sentia meu lado interno, e sentia vergonha”. Ele começou a reconhecer que se tornara o companheiro (*) emocional de sua mãe – que assumira a tarefa do pai. (casado – parceiro da mãe → Invalidado como filho)

Ele tomou uma folha e escreveu as regras da família. Enquanto repassava sua história e reexaminava as fotos no álbum de família, começou a conectar-se com seus sentimentos escondidos. Joe começou a ver que se tornara um abafador para a tristeza não-resolvida e o passado secreto da mãe. (Cumplicidade).

  • Reconstrução da História pessoal.

Percebeu a necessidade de ir ao túmulo da mãe, conversar com esta sobre a perda da história familiar e lamentar não tê-la conhecido como uma pessoa.

Ele também percebeu o grau de superficialidade em seu relacionamento com o pai, quanto cuidado paterno perdera e o quanto se ressentia com o pai por não encorajar sua mãe a revelar os segredos da família. Pai e filho começaram a falar sobre suas perdas, passando longos períodos em conversas sinceras. (sem fazer cera para tapar frestas).

  • Mentiras Exibidas e Verdades ocultadas pelo Mito da Idealização!

Dois outros segredos foram revelados, no processo de terapia. Joe soube que sua mãe contara a Marsha muito de sua história de vida, e que esta se casara com ele devido ao carinho e sinceridade demonstrados pela sogra. Na verdade, ela considerava a sogra como a mãe que sempre desejara ter.

  • Encaixe complementar – Rígido. Manter Imagem Idealizada e compensar a Vergonha do Ridículo Social.

Manutenção da Vergonha: – (credenciamento social)

Mantemos nossa vergonha aderindo ao processo interpessoal que aprendemos em nossas famílias.(Estruturadas, mas ainda não organizadas nem organizadoras da sensibilidade familiar, pessoal).

A vergonha pode ser bem mascarada e mantida através de nossa lealdade às regras familiares, quando continuamos mantendo o ciclo de vergonha e segredos. A vergonha gera a vergonha (e dispara o gatilho de compensação-estruturante, mas desorganizante).

  • A Vergonha gera Vergonha do Ridículo e se compensa nos Vícios – Fofocas – Perversões – Loucuras… Doar sem Limite/Prazer sem Limite Cheio de Excessos, Exageros, Extremos, Abusos…etc…

Tipicamente, vemos que o senso de vergonha de um indivíduo está ligado ao comportamento de algum outro membro da família – em outras palavras, a violações do código social. A vergonha pode ser conscientemente conhecida ou guardada no inconsciente, em histórias familiares mantidas em segredo e mitos nas famílias. A fidelidade familiar mantém os segredos e a vergonha intactos, não importando seu poder familiar debilitante, (da Pessoa Íntima, da Intimidade; da Autoridade Interna Invalidada!)

Aprendemos que as mulheres têm escores muito altos em escalas de vergonha, especialmente aquelas para a inferioridade e a alienação, do que os homens (Cook, 1989).

A socialização das mulheres como sendo inferiores aos homens e sua responsabilidade ou hiper-responsabilidade pelos relacionamentos, claramente são subjacentes aos seus escores superiores na escala de alienação.

Quando um relacionamento termina ou dissolve-se, as mulheres frequentemente sentem-se alienadas, porque se consideram responsáveis por fazerem funcionar os relacionamentos. (Delírio de Grandeza).

  • “Vagabundas Bobas / Babás” – Ser muito metade para ser perfeita nos encaixes masculinos.

A vergonha é um senso íntimo de ser completamente diminuído ou ser insuficiente como uma pessoa. É o Self julgando o Self. Um momento de vergonha pode ser uma humilhação tão dolorosa ou uma indignidade tão profunda que o indivíduo sente-se roubado de sua dignidade ou exposto como basicamente inadequado, mau ou digno de rejeição. Um senso abrangente de vergonha é a premissa contínua de que o indivíduo é fundamentalmente mau, inadequado, defectivo, indigno ou não completamente válido como um ser humano (Fossum & Mason, 1986, p.5)-(Sem Poder Pessoal / Sem Autoridade íntima – Hexagrama nº 61 – 3ª linha) (Invalidado – Descredenciado).

  • O Fantasma do Ridículo experimentado ou em vias de se experimentar.

A vergonha frequentemente é confundida com culpa. Entretanto, a vergonha e a culpa estão em extremos opostos do continuum. A culpa emana de uma consciência e valores integrados. O sentimento de culpa é um ativador que nos diz que enfrentamos a possibilidade de violar um valor.

  • Diversos Apelidos: Tabu / Pudor / Desaponto / Desconforto / Timidez-Inibição /Temor –

A culpa diz respeito ao comportamento; a vergonha diz respeito ao Self. Em outras palavras, a culpa relaciona-se ao que fazemos; a vergonha diz respeito ao que somos. “Com culpa, eu cometo um engano, com a vergonha eu sou um engano”. Com a vergonha, não podemos dizer: “ Estou enganado, desculpe, cometi um erro”. Dentro da culpa, há um caminho de volta, um modo de fazer reparações. Somos capazes de observar sob a culpa e conhecer os valores que mantemos. Nossa consciência sustenta nossos valores.

Uma vez que a vergonha diz respeito ao Self e é internalizada profundamente em nós, a possibilidade de reparo é evitada. A vergonha está escondida no falso Self, o Self-ator altamente desenvolvido que substitui os limites pessoais. À medida que rompemos com as regras familiares e descobrimos a pessoa por trás do ator, vemos o processo de cura.

O segredo não diz respeito ao comportamento nos relacionamentos atuais, mas ao que está escondido na história familiar passada. A vergonha é mascarada, mas pode tornar-se visível na falta de intimidade ou temor a esta, perfeccionismo, comportamentos autoderrotistas, relacionamentos desequilibrados onde um parceiro é hiper-responsável e o outro é infantilizado, e relacionamentos pseudomútuos ou pseudo-hostis.

  • Encenação Familiar Encaixe do casal:• sem memória /• vagas lembranças / • descredenciado.

Uma vez que nos contentemos em permanecer dentro dos limites das recordações, lembranças e conclusões acerca de nossa família, formadas a partir de nossas experiências da infância, estamos destinados a continuar encenando nossa posição de reator sem escolhas às forças – conscientes e inconscientes – operantes em nossas famílias (Schwartz, 1985).

Nossa dependência literal, quando crianças, demanda uma estreita adesão às regras implícitas de nosso sistema familiar, com relação ao que deve e não deve ser expresso. Por nosso carinho, por nossa dependência e necessidade extrema pela boa vontade dos responsáveis por nossa criação, aprendemos como não ir além dos limites do que cria ansiedade para aqueles que amamos e dos quais dependemos. Assim, temos o potencial para guardar segredos. (Mito: – Dívidas vergonhosas / – Dotes)

  • Potencial para guardar segredos – Credencial Social

                                 – Invalidade Íntima

As crianças conseguem “ler” seus pais com muita clareza. Sentindo a dor escondida de nossos pais, tentamos protegê-los escondendo nossos próprios sentimentos ou agindo para afastá-los de sua dor. A maior parte disto ocorre no nível inconsciente. Claramente, Joe reconhecera a dor dos pais e inconscientemente esforçara-se para evitar causar uma dor adicional.

Joe começou a perceber que, talvez, parte da dor que estava liberando agora consistisse da vergonha da mãe. Joe fora leal, seguindo as regras da vergonha para manter o segredo da mãe. Também afirmou a crença de sua história era inválida.

Como os terapeutas vêm a vergonha mantida?

Em nosso trabalho clínico, vemos padrões que indicam claramente que os membros da família estão engajados na dinâmica da vergonha. Ouvimos histórias óbvias que tornam presumível a dinâmica da vergonha – abuso físico e/ou sexual, adicções, transtornos alimentares, problemas com os limites pessoais, depressão, fugas e roubos. Esses problemas violam as normas sociais e podem ser fontes previsíveis de vergonha.

Contudo, muitas das fontes de vergonha poderiam ser mantidas em segredo – um comportamento compulsivo, um caso extraconjugal, deficiências físicas, preocupações relativas à saúde, desastres financeiros. (→Delírios de Grandeza /→Poder Pessoal e Autoridade Interna Bloqueada).

Nossa fidelidade às nossas famílias é uma força inconsciente importante que nos liga ao processo da vergonha herdada.

Há dois tipos de fidelidade familiar: →A primeira é o carinho natural que sentimos pelos membros de nossa família. Compreendemos e apreciamos o grupo familiar no qual nascemos. Somos leais a ele por criar, manter e apoiar nossas vidas – não importando que faça parte da família ou como ela era. →O segundo tipo é a “lealdade invisível”, que não é transparente, não é conhecida e, portanto, não é compreendida (Boszormenyi-Nagy, 1973). Esta lealdade é um poderoso cabo de fios invisíveis que nos mantém emocionalmente cativos de nossas famílias. (Viciados / Fofoqueiros).

Temos direito aos nossos segredos?

Com o que sabemos sobre os segredos e sobre a transmissão da vergonha, como nos permitimos manter alguns de nossos segredos sem passarmos adiante a vergonha?

Quando eu servia como consultora sobre sexualidade para um programa familiar num centro para o tratamento de alcoolismo, um dos terapeutas anunciou orgulhosamente: “Somos um programa sem segredos, dizemos absolutamente tudo em nossos grupos de famílias. O que você acha disso?

Apressei-me a explicar que não pode existir uma fórmula fixa para a revelação de segredos – que a honestidade sem sensibilidade pode ser brutalidade. Nem todos os segredos precisam ser compartilhados com as crianças; entretanto, é importante compartilharmos nossos segredos com alguém. Ao fazê-lo, permitimos que outros nos conheçam e permitimos que outros se revelem a nós. (Mudança de Paradigma Familiar – Pegar o “Último Trem de Berlim”)

Os segredos vergonhosos podem resultar em isolamento e dor; quando revelamos segredos, podemos externalizar a vergonha. Começamos, assim, a separar nosso Self de nossa vergonha.

A Vergonha inibe ou derrota o desenvolvimento de relacionamentos íntimos autênticos, promove segredos e limites pessoais vagos, instila inconscientemente a vergonha nos membros da família, bem como o caos em suas vidas, e os une para perpetuar a vergonha em si mesmos e em seus descendentes. Isto ocorre não importando as boas intenções, desejos e amor que também podem ser parte do sistema (Fossum & Mason, 1986, p.8).

Todos encontramos experiências, na vida, que oferecem uma oportunidade para o crescimento pessoal. Embora possamos jamais nos transformar naquilo que podemos ser, quando podemos experienciar a terapia em um ambiente apoiador e empático, podemos usar os segredos vergonhosos como catalisadores para a cura e o crescimento.

  • Organizar nossa sensibilidade para: Vivenciar–Escutar–Conflitos-Dilemas.

À medida que voltamos à verdade que é “devida” a um membro da família ou a outros que nos são caros, revelando nossos segredos, começamos, simultaneamente, a consertar as pontes interpessoais rompidas e a curar nossa vergonha.

  • Validar nossa Sensibilidade / Nutrir a Auto-referência / Auto-validade participativa.

Qual é, exatamente, o relacionamento entre os segredos e a vergonha? Alguns segredos são conscientemente particulares; alguns estão envolvidos em uma vergonha consciente. Outros, ainda, são enterrados no inconsciente ou nas recordações reprimidas. Para entendermos o relacionamento entre a vergonha e os segredos, devemos, primeiro, compreender como a privacidade, o segredo e a vergonha diferem entre si.

É difícil discernir exatamente o que atribuir ao domínio privado ou ao segredo. Alguns afirmam que não existe privacidade sem vergonha; muitos de nós defendemos que um senso de vergonha pode nos proteger da exposição degradante – que ele protege nosso íntimo, nosso espírito. A ponte entre a privacidade e a vergonha é o segredo.

Em um recente seminário sobre a vergonha na família, pedi que os 125 participantes escrevessem um segredo familiar num pedaço de papel. Todos, à exceção de um, conseguiram citar pelo menos um segredo sem muita deliberação. Revelaram segredos sobre estupro, abuso físico, transtorno maníaco-depressivo, casos extraconjugais, abortos, alcoolismo, jogos, filhos nascidos fora do casamento, travestismo, promiscuidade, finanças, adoção, incesto, práticas religiosas, suicido, lesbianismo e homossexualidade masculina, fome e contrabando… Claramente, nem todos esses segredos emocionados seriam necessariamente vergonhosos; ainda assim, a maioria dos participantes os recordava como fonte de vergonha.

Livro:
Os Segredos na Família e na Terapia Familiar 
Evan Imber-Black – Editora ArtMed.

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