Psicogenealogia Sistêmica
AMPLIANDO CONCEITOS
"E o que um dia eu vou saber, não sabendo, eu já sabia." Milton H. Erickson
O PSIQUISMO
O CONSCIENTE – O que sei que sei.
O INCONSCIENTE – Sei e não sei que sei. Tudo está contido no inconsciente. Ele é o grande oceano que contém o primitivo como matéria prima.
O IMAGINÁRIO – Significa representação mental (consciente ou não) de um objeto ou a reprodução mental de uma sensação na ausência. É próprio dele, reduzir o outro a si mesmo, o diferente em idêntico, o estranho em semelhante. O imaginário sempre nesta acepção se alimenta de sinônimos, analogias, isomorfismos. Tudo o que é semelhante e familiar, achamos que é bom ou normal, mesmo que seja violência, abuso, pedofilia ou qualquer outro padrão negativo. A forma como estas experiências inconscientes vão fixar, chama-se imprinting.
IMPRINTING – O imprinting é um termo proposto por Konrad Lorenz para explicar a marca indelével imposta pelas primeiras experiências do animal recém-nascido (como ocorre com o filhote de passarinho que, ao sair do ovo, segue o primeiro ser vivo que passe por ele, como se fosse sua mãe). O imprinting cultural marca os humanos desde o nascimento, primeiro com o selo da cultura familiar, da escolar em seguida, depois prossegue na universidade ou na vida profissional. Imprinting é um padrão de repetição invisível, passado de pai para filho e transferido para as próximas gerações sucessivamente. Exemplo: mito familiar.
REPETIÇÃO – O inconsciente tem uma mente que escolhe sempre aquilo que é confortável, conhecido, fácil e sem responsabilidade – faz cópia. A pessoa cria um modelo mental para determinada coisa e mesmo quando não precisa mais, ela continua repetindo o comportamento, por causa do modelo mental que não foi revertido.
MODELO MENTAL – É um mecanismo do pensamento mediante o qual um ser humano tenta explicar como funciona o seu mundo. É o modo que a pessoa adquire uma linguagem e a partir daí vai perceber e pensar o mundo. O modelo mental começa a partir da linguagem, à medida que a linguagem e a percepção vão se formando, vai se formando o modelo mental.
PROGRAMA GENEALÓGICO – Um programa de informática é um conjunto de instruções codificadas de maneira tal, para se obter um determinado resultado na máquina que o faz funcionar. Programa significa escrito antecipadamente e indica as intenções pelas quais tem a finalidade de serem atuadas.
Às vezes, como no caso do projeto parental, os nossos ascendentes atuam dentro de um programa genealógico através, de um nome ou de crenças familiares. Tal programa se cria de maneira espontânea, depois de um ou mais traumas e são eleitos certos descendentes para curá-los. Na maior parte dos casos, as tentativas de reparação permanecem inconscientes, fracassam e se consolidam mediante uma repetição do problema em várias gerações.
MODELO MENTAL FECHADO – A pessoa vive no princípio do determinismo ou da causalidade linear. Padrão Gabriela – eu nasci assim, eu cresci assim…
MODELO MENTAL COMPLEMENTAR – Princípio da plasticidade, em zigue-zague, complementar, reversível. A função do terapeuta é ajudar a pessoa “flexibilizar” seu modelo mental enrijecido por um trauma. Mas para mexer no modelo mental de uma pessoa é preciso que ela tenha permissão para fazê-lo.
PERMISSÃO – É uma regra do modelo mental. Somente alguém com autoridade equivalente ao que foi estabelecido na organização inicial deste modelo, quem poderá conceder esta permissão.
INCONSCIENTE COLETIVO – Carl Gustav Jung – Na elaboração de sua teoria sobre o funcionamento da psique, postulou a existência de um inconsciente coletivo além do individual. Segundo esta concepção, na psique humana é registrada também a história da nossa família, os sentimentos que os nossos precursores viveram, bem como os traumas e os sofrimentos, como são registrados no corpo as características físicas herdadas dos nossos antepassados. Esta memória familiar faz parte daquilo que Jung chamou de inconsciente coletivo.
INCONSCIENTE FAMILIAR – O inconsciente familiar fala através da pessoa. Numa terapia individual, a busca pela terapia é pessoal e não pessoal. É todo o sistema familiar que procura a terapia através desta pessoa. O cliente tem o seu padrão de funcionamento pessoal e também o padrão de funcionamento familiar/sistêmico.
INCONSCIENTE FAMILIAR E O CORPO FÍSICO – O corpo do cliente também é uma ferramenta para localização de questões. Ele contém informações armazenadas e passadas para frente através dos genes familiares. Temos bilhões de células e assim bilhões de informações armazenadas em nós, dos nossos pais, avós, bisavós e sendo accessíveis dentro da gente. As estruturas físicas e psicológicas contém a história daquela espécie, que podem ficar mais rígidas através dos traumas. As experiências boas também são armazenadas, mas o que fica mais são os traumas.
TRAUMA – Diferente dos animais que entram menos em estado de trauma, nós como animais ditos racionais entramos com mais facilidade em estado de trauma, porque somos capazes de dissociar a emoção de pensamento. No nível físico a adrenalina liberada dá um impulso enorme de lutar ou de fugir. Em geral, os animais entram numa atividade física e a adrenalina e os hormônios liberados são utilizados e não fica então nenhuma informação no corpo para recordar o evento. Mas o ser humano quando vivencia um fato desagradável, além das opções de lutar e de fugir, ele tem a opção de congelar no freezer racional. Vem a adrenalina, fica pronto para atuar e então vem o freezer racional, dissociando a emoção do pensamento. No nível físico, esta informação química fica armazenada no corpo, nas células, nos músculos, na estrutura como um trauma e deixando-a mais rígida. Assim o fluxo emocional está sendo menos accessível e poderá ser transmitido inconscientemente de geração a geração. Podem ser dezenas de gerações. Quando o cliente chega ao consultório preste atenção como ele se comporta, quais são os seus sintomas.
O SINTOMA CONTA UMA HISTÓRIA
"O que é calado na primeira geração, a segunda geração carrega no corpo."
Françoise Dolto
Quando um cliente chega ao nosso consultório portando um sintoma, como psicoterapeutas devemos perguntar: – quem mais neste sistema tem ou teve este sintoma? O pai, a mãe, tios, avós, bisavós? Não tem um sentimento, uma emoção que não tenha sido vivenciado inúmeras vezes naquele sistema.
Relatando um caso clínico
Paciente do sexo masculino, cerca de 30 anos, casado, encaminhado pelo psiquiatra, com pensamentos insistentes de que iria estrangular a sua filha de apenas seis meses. Para preservar a identidade do paciente, nomes foram trocados.
O paciente relatou que um dia ao voltar do trabalho, brincando com sua filha na cama, saiu para buscar uma toalha e sua mulher o repreendeu por deixar a criança sozinha. Ele voltou rapidamente para o quarto e quando chegou perto da cama da menina, teve pela primeira vez o pensamento de que iria estrangulá-la.
Em uma sessão, quando começou a desenhar seu genossociograma, ele teve muita dificuldade em confirmar o número de irmãos que tinha. Afirmou inicialmente que sua mãe não teve abortos e nem tinha morrido nenhum irmão. Mas, como existia uma diferença de idade entre ele e seus irmãos, acima e abaixo cronologicamente, eu insisti na possibilidade de natimortos. Ele então relatou: dizem que acima de mim teve um bebê que nasceu e morreu poucos dias depois, mas não sei como e nem quando.
No final da elaboração do seu genossociograma, ao assentar ele disse: – ah! tinha a Maria Alice que era a mais nova do que eu e morreu com poucos meses. Perguntei se ele sabia como, ele respondeu com dificuldades, que diziam que seus pais, uma vez bêbados, dormiram sobre ela, sufocando-a. Neste momento ele fica emocionado, como se uma luz tivesse sido acesa dentro de sua alma. Ele completa o relato: mas meus pais brigavam muito… Então, depois de um tempo em silêncio, perguntei o que ele imaginava que tinha acontecido de fato. Ele sacudia a cabeça em negativo e dizia que não sabia. Diante do que havia narrado, perguntei se existia a possibilidade, deles alcoolizados e durante uma briga haverem estrangulado o bebê. Ele diz que sim, porque já havia visto seu pai quase estrangular sua mãe.
Até aqui tudo eram hipóteses. Mas logo em seguida, eu percebi que sua filha tinha o segundo nome desta sua irmãzinha morta – Alice. Perguntei se ele deu o nome à filha em homenagem a esta irmã morta. Ele disse que não, porque nem se lembrava de que tinha esta irmã.
Esta parte de uma sessão de genossociograma, nos leva entender que:
- o indivíduo como essência do sistema familiar tem acesso às informações de acontecimentos e traumas familiares;
- tem a realidade do agora e uma realidade que vem de outro lugar: o passado;
- sabemos que uma informação negativa sendo armazenada dá ressonância no corpo ou em situações da vida da pessoa;
- também pode ser somente algo que a pessoa viu e não viveu , que somente assistiu (neurônios espelho) e não conseguiu elaborar.
NEURÔNIO ESPELHO – É um neurônio que dispara tanto quando um animal realiza um determinado ato, como quando outro animal observa (normalmente da mesma espécie) a fazer o mesmo ato. Desta forma, o neurônio imita o comportamento de outro animal como se estivesse ele próprio a realizar essa ação. Estes neurônios já foram observados de forma direta em primatas, acreditando-se que também existam em humanos e alguns pássaros.
PSICOGENEALOGIA E PSICOTERAPIA – Quando o cliente vem com qualquer questão, com qualquer sintoma, ele nos traz muita informação familiar. Devemos explorar junto com ele como podemos completar esta imagem. Uma parte da informação ainda não temos. Podemos explorar através de recursos como: o genossociograma, átomo social, genograma fotográfico, genograma metafórico, escultura familiar fenomenológica, constelação familiar e outros trabalhos.
Como terapeutas não precisamos devolver nada para o cliente, porque não é possível devolver o que já é dele. Mas devemos ajudá-lo dizer sim à sua realidade. Jaqueline Cássia de Oliveira |
Partes de textos do material didático Psicogenealogia Sistêmica - O romance familiar contado pelo genograma - Páginas 12 a 15 Interação Sistêmica Edições - Brasil